quinta-feira, 17 de julho de 2008

ECOSOL, Juventude e Movimento Estudantil

"Guerra. Fome. Terror. Intolerância. Racismo. Violência. Exploração". Assim, a Kizomba inicia sua tese ao 50º Congresso da UNE. Vivemos tempos de barbárie. Todos estes elementos, descritos acima, nos são apresentados cotidianamente, em jornais, revistas, na TV, na Internet, nas ruas e esquinas. O não exercício de reflex(aç)ão sobre as mazelas que vivemos hoje, torna nossa existência alienada. Somos objetos em existência, quando podemos ser sujeitos da existência. Citando Paulo Freire: "Na verdade, seria incompreensível se a consciência de minha presença no mundo não significasse já a impossibilidade de minha ausência na construção da própria presença".Todas estas mazelas são conseqüência de um sistema econômico que tem como princípio a competição. O/A vencedor(a) terá o lucro, o emprego, a vaga na Universidade.
Ao/À derrotado/a resta a possibilidade de competir novamente, em um sistema que atribui privilégios à vencedores/as e desqualifica perdedores/as. Na sociedade em que se compete de maneira alienada, aqueles/as que se encontram na mesma situação competem entre si. Empresas contra empresas. Trabalhadores/ as contra trabalhadores/ as. Estudantes contra estudantes.Desta forma, a busca por instrumentos que possibilitem à sociedade compreender sua realidade, é um desafio constante, de todos/as que desejam um mundo mais justo e democrático.
A Economia Solidária (EcoSol) apresenta-se, neste contexto, como forma de organização do trabalho, a partir da negação crítica a elementos constituintes da economia capitalista tradicional, ou seja, estrutura-se criticando o passado e o presente, possuindo em sua estrutura organizativa elementos antagônicos à forma tradicional de estruturação do capital.A EcoSol organiza o trabalho democratizando o poder dos/as trabalhadores/ as sobre a produção e, conseqüentemente, sobre a renda gerada. Pauta-se por relações de trabalho mais horizontais e solidárias, na qual os rumos da produção são decididos em Assembléias onde participam todos/as trabalhadores/ as.Por isso, para nós da Kizomba, a EcoSol é um elemento essencial à Juventude, esteja esta presente no mundo do trabalho, nas Escolas e Universidades, ou em ambos espaços. Os números a respeito da Juventude são desanimadores.
No Brasil, a juventude representa quase metade dos/as trabalhadores/ as desempregados/ as. Além disso, a grande maioria dos/as jovens está fora do Ensino Superior. Conseqüência direta disto são os números de violência (No Brasil, o número de homicídios de jovens é quase o dobro do restante da população).Dentro deste panorama, a Economia Solidária apresenta-se como alternativa a estes problemas. Além da possibilidade do emprego, representa o estabelecimento de relações cotidianas com princípios justos e solidários.Em relação às Universidades, a EcoSol já representa espaço de protagonismo estudantil.
As Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCP's), presentes em Universidades como a USP, a GV, a UFV, entre outras, são importantes espaços de construção de uma Economia Solidária, possuindo importantes experiências, "incubando" empreendimentos solidários, cooperativas, hortas comunitárias. Além disso, a Economia Solidária, por sua estreita relação entre Universidade, estudantes e setores populares excluídos do Ensino Superior, representa importante campo também para a Extensão Universitária.Sendo assim, à Juventude como um todo (esteja ela dentro e fora da Universidade) , a EcoSol apresenta-se como importante campo de atuação política. Faz-se necessário, num momento em que identificamos uma crise das políticas neoliberais, a organização de um campo que possa representar benefícios materiais à setores populares, ao mesmo tempo que se contrapõe aos valores e ao modo de organização do trabalho do Capital Tradicional.Porém, a EcoSol ainda é uma questão recente. Sua presença no cotidiano do mundo do trabalho e da Universidade ainda é tímida. Por isso, um primeiro passo é a consolidação de uma relação com os setores sociais que já organizam a Economia Solidária, dentro e fora da Universidade.
Um segundo passo é a promoção da Economia Solidária através de debates, seminários, enfim, espaços públicos que apresentem o tema enquanto um conceito e enquanto uma experiência.Para isso, coloca-se como importante tática a consolidação da EcoSol nas Organizações Estudantis e de Juventude. Entidades estudantis (CA's, DA's, DCE's, UEE's e a UNE, inclusive), as Juventudes dos partidos, dos Movimentos Sociais, Coletivos políticos e de Cultura; é de fundamental importância a incorporação pela Juventude da Economia Solidária enquanto espaço/instrumento de construção da Sociedade que queremos.Dentro desta perspectiva, a Juventude presente no Movimento Estudantil deu um passo importante para a EcoSol, com sua intervenção no Congresso da UNE. Passo maior (lê-se DESAFIO MAIOR) será consolidar a Economia Solidária no cotidiano dos/as jovens.Temos esse objetivo.

Gustavo Felinto
Estudante de Nutrição - USP
Diretor de Economia Solidária da UEE SP
Militante da Kizomba

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