quinta-feira, 30 de abril de 2009

Manifesto contra o Selo FLO (FAIR-TRADE) comércio justo - Espanha


Manifesto Contra o Selo FLO - Espanha



Diante da proposta de criar uma iniciativa nacional para impulsionar o selo FAIRTRADE (FLO-Internacional), os abaixo assinados declaramos:

1. Os esforços das Organizações de Comércio Justo para importar, distribuir e comercializar produtos de organizações populares do Sul são uma parte da luta por mudar as injustas estruturas do comércio internacional onde poucas empresas transnacionais (que dominam por um lado os organismos multilaterais como o FMI, o Banco Mundial e a OMC, e por outro as políticas agricolas e comerciais dos principais governos) estão impulsionando um modelo agrícola, comercial e de consumo injusto e insustentável.

2. O movimento de Comércio Justo deve denunciar aos organismos que estão levando a uma ruína aos milhões de agricultores em todo o mundo.
Denunciamos que organismos como o Banco Mundial, a administração norteamericana mediante seu programa USAID e a mesma Associação Nacional de Café dos Estados Unidos, apoiam a certificação de café do “Comércio Justo” ao mesmo tempo que estão impedindo um novo acordo do café que garantisse os preços internacionais mínimos para a queda livre dos preços de café.

3. O Movimento de Comércio Justo deve denunciar também as grandes multinacionais transformadoras, as grandes empresas distribuidoras e as grandes cadeias de alimentação, que estão levando a ruína os pequenos agricultores de todo o mundo.

Por isso, não compartilhamos e enfrentamos a reivindicação de selos de comércio justo, como a FLO-Internacional, que só colocam como condição os produtores do Sul e aceitam que seu café sejam comercializados em estabelecimentos como Mcdonald’s (como é o caso da Suiça) e seja distribuido por grandes multinacionais como Procter&Gamble cujo o negócio tem se sustentado e segue baseando-se na compra de café a preços miseráveis.

4. A visão do Comércio Justo centrado exclusivamente nas condições dos produtores do Sul despreza o trabalho de outros atores que intervém na cadeia comercial: exportadores, importadores, transportadores, transformadores, distribuidoras, poderes públicos, organizações sindicais....

Dizer que um produto é de comércio justo só pelas condições de compra ao produtor, prescindindo do resto da cadeia nos parece uma simplificação que, reduzindo o comércio justo a uma pura transferência de recursos para o Sul, permitindo que seja cooptado pelas multinacionais e organizações como o FMI e o Banco Mundial, que precisamente são os inimigos de um Comércio Justo.

Acreditamos que precisamos exigir justiça para todos os trabalhadores e trabalhadoras implicados na totalidade da cadeia que seguem os produtos, tanto no norte como no sul.

5. O Selo tipo FLO centra sua certificação na condição de soprepreço. Porém, é uma certificação que só pode levar adiante se conseguem suficientes compradores dispostos a pagar este sobrepreço e então exclui a maioria dos produtores que estariam interessados em obter certificação: um café produzido pelas organizações que tem uma prática acordada com as exigências do comércio justo pode não ser vendido (com sobrepreço) nos circuitos de comércio justo já que esses não tem uma clientela tão grande para vende-lo. Ao apresentar-se como quem certifica os “princípios internacionais do Comércio Justo” esta prejudicando gravemente os produtores do Sul que não podem avaliar-se, além de falsear a realidade dos consumidores do norte que podem pensar que quem não tem o Selo não cumpre alguns ditos “princípios internacionais”.

Além disso, na atualidade só alguns dos produtores de matérias primas mais demandadas pela agroindústria (café, açucar, cacau e chás) são so que podem conseguir o Selo FLO.

6. Há que pense que o fato de que o Comércio Justo impulsionará um Selo tipo FLO no Estado Espanhol impedirá que as mesmas multinacionais façam seu próprio Selo.

O caso da Starbucks desmente isso: essa companhia comercializa em seus estabelecimentos no Estado Espanhol os produtos “Sttarbucks do Comércio Justo” certificados nos Estados Unidos.

Nas grandes cadeias de distribuição francesa, a aparição de produtos das próprias cadeias (Auchan, Carrefor, Intermarché...) com Selo FLO, tem aparecido, nas mesmas gondolas, de produtos da empresa CEMOT com um Selo “Bio-Equitable” criado por eles mesmos. Como explicar aos consumidores que se Intermarché ou Carrefour podem ter produtos de Comércio Justo com o Selo FLO, a empresa CEMOT não pode ter seus produtos denominados “bio-justo”? A confusão é total. O comércio justo tem se transformado em uma nova forma de marketing para as empresas.

7. Os partidários do Selo FLO argumenta que com ele se consegue uma ampliação da difusão dos produtos e do Comércio Justo, fundamentalmente através das Grandes Superficies (hipermercados). Porém: Que tipo de conhecimento sobre o comércio justo criará as grandes superfícies? Seguramente, não falaram de suas responsabilidades e de seus principais fornecedores na ruína de milhões de agricultores. Além, as simplificações da mensagem e o marketing consumista tão pouco são coerentes com a potencialização de um consumo responsável e consciente. Não é esse tipo de sensibilização que buscamos nas organizações do comércio justo que assinamos nesse documento.

Por outro lado, o comércio justo nasceu e cresceu as custas e graças aos pequenos grupos e lojas e é nesse momento, quando comercialmente pode interessar, que as multinacionais, querem pegar nossas bandeiras, nossas causas, prometendo que graças a eles o comércio justo vai se difundir mais. Isso é aproveitar-se primeiro e desprezar depois o trabalho de titãs que todos esses pequenos coletivos realizaram.

8. Na sociedade em 2004 um Comércio Justo não pode existir. É um objetivo na qual temos, uma meta, uma luta. Uma organização de Comércio Justo o único que pode garantir, mediante a transparencia total no conjunto do processo comercial, é que tem-se conseguido o máximo de igualdade possível em um mercado fortemente condicionado pela desigualdade.

Porque pagar um preço justo, quer dizer, pagar hoje 125 centésimos de libra do café, faz 10 anos e a 160 amanhã a 132?

O chamado “preço justo”consiste simplesmente em pagar um “a mais” por cima do preço que existe no mercado mundial marcando um mínimo quando o preço caí profundamente. O preço construido é, simplesmente, o que podem aceitar os consumidores e consumidoras para pagar a mais. Pensar que por pagar a mais um preço converte-se em justo é um mito.

Aceitando como base o chamado preço mundial estamos aceitando os mecanismos – claramente seletivos – que levam a establecer dito preço, e por tanto favorecendo as cooperativas mais competitivas desde o ponto de vista do mercado, que não tem porque coincidir com a mais interesante desde um ponto de vista de comercio alternativo.

9. Não obstante, e diante da proliferação de empresas que se autoproclamam de Comércio Justo e/ou tem productos que se dizem de comercio justo, vemos como positivo que as diferentes redes de relação entre as organizações de comercio justo vão criando sistemas de auto-verificação coletiva reforçando a transparencia de nosso movimento. Apoiamos a criação de um Selo que garanta que uma organização pertença ao movimento de Comércio Justo. Esse é o caso do Selo criado para as organizações de IFAT (Associação Internacional de Organizações de Comércio Justo) que situa-se nessa linha de autogestão do próprio movimento de Comércio Justo.

10. Por todas esas razões somos contrários e não participaremos da criação de uma iniciativa nacional para impulsionar no Estado Espanhol o Selo FLO. O apoio a iniciativa do Selo FLO por parte da Coordenação Estatal de Comércio Justo, na qual, só obteve apoio do 50% dos votos presentes, é um intento de fazer aparecer a FLO apoiado pelo movimiento, quando só é apoiado por uma parte. Desgraçadamente, para criar essa falsa imagen, se tem violado o principio do consenso que em nosso entender deveria presidir ao funcionamento em instâncias unitárias.

Asturias, Março 2005

tradução do espanhol por Leonardo Pinho

Assinam:

A cova da terra, Tienda de comercio justo y consumo responsable, Lugo, Galicia
Acsur - Las Segovias, ONG de sensibilización y cooperación al desarrollo, Asturies.
Afoca, Punto de Comercio Justo, Barcelona, Catalunya
Apassos, Tienda de comercio justo, Santa Coloma de Gramanet, Catalunya
Aqueni, Cooperativa de segundo grado para la intercooperación y el consumo responsable, Barcelona, Catalunya
Aram Món Alternatiu, Tienda de comercio justo, Vilafranca del Penedes, Catalunya
Colectivo de Apoyo a la Rebelión Zapatista, Importador de café zapatista, Barcelona, Catalunya.
Consumo Respeto, Asociación de comercio justo y Consumo Responsable, Daimiel, Castilla la Mancha
Coordinadora Ecoloxista d'Asturies, Coordinadora de organizaciones ecologistas, Asturies
Cosal, Comité de solidaridad con América Latina, Asturies.
Delaterra, Tienda de productos ecológicos y de comercio justo, Catalunya
DiDeSUR, Tienda de Comercio Justo , Azuqueca de Henares, Castilla la Mancha.
Elkartruke, Distribuidor, Andoain, Euskal Herria
Emaús Fundación Social, 3 tiendas con sede en Donosti/San Sebastián, Euskal Herria
Espanica, Cooperativa hispano - nicaragüense de comercio justo sin animo de lucro, Madrid, Madrid.
Grupo de Consumo Cambalache, Grupo autogestionario de consumo agroecológico, Uvieu, Asturies
Jayma, Tienda de comercio justo, Tomelloso, Castilla la Mancha.
La Aldea del Sur, Distribuidores de productos ecológicos y de comercio justo, Madrid, Madrid
La Ceiba, Cooperativa de Consumidores de Comercio Justo, Madrid, Madrid
L'arcu la vieya, Tienda de comercio justo, Uvieu, Asturies
La Llauna, Cooperativa de consumo responsable, Sta Coloma de Cervelló, Catalunya.
L'ecoespai de Rusafa, Tienda de productos ecológicos y comercio justo, Valencia, País Valencia
Lo Cacau, Tienda de comercio justo, Lleida, Catalunya
Minga, Red francesa por el desarrollo económico de un verdadero comercio justo, Francia.
Mon Verd, Cooperativa distribuidora de productos ecológicos, Barcelona, Catalunya
Pachamama, Tienda de comercio justo, Ciudad Real, Castilla la Mancha
Panxea, Tienda de comercio justo, Santiago de Compostela, Galicia
Picu Rabicu, Tienda de comercio justo y consumo responsable, Xixón, Asturies
Red de Comercio Justo y Consumo responsable de Castilla la Mancha, Castilla la Mancha.
Sodepau, Tienda de comercio justo, Barcelona, Catalunya
Sodepau P.V. , O.N.G / Tienda de comercio justo, Valencia, País Valencia
Sodepaz, Importadores y distribuidores de comercio justo
Sodepaz Balamil, organización y tienda de comercio justo, Valladolid, Castilla León
Soldepaz-Pachakuti, Asociación de desarrollo y cooperación Internacional, Asturies.
Tota Cuca Viu, Cooperativa de consumo responsable, Barcelona, Catalunya
Trevol-SMS, empresa social distribuidora de bienes y servicios de mercado social, Barcelona, Catalunya
Utopia, Tienda de Comercio Justo, Alcobendas, Madrid.
Userda 9, Cooperativa de consumo responsable, Barcelona, Catalunya
Xarxa de Consum Solidari, Importadores y distribuidores de comercio justo, Tienda de comercio justo y consumo responsable, Barcelona, Catalunya

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